Desde criança eu sempre gostei de criar. Não importa o que, apenas fazer as coisas com as minhas mãos e mente. Sempre tinha a casa cheia de amiguinhos, mas caso não tivesse poderia brincar horas e horas sem tédio. Minha imaginação e eu. Criava de navios piratas a restaurantes de luxo. Sem contar no programa que ‘apresentei’ durante quase toda minha infância – o ‘Big Show’. O nome não era muito original, mas tinha até microfone personalizado que eu fiz a partir de um suporte de sombrinha (!) e telepromter – uma caixa com o texto que eu tinha que falar todo enrolado. Na época eu nem sabia o nome daquela engenhoca, mas estava lá.
Minha mente sempre foi hiperativa. Desde que me entendo por gente dou conta e gosto de fazer várias atividades ao mesmo tempo. Não consigo ficar parada. As poucas vezes que paro totalmente o que estou fazendo acredito que é quando estou dormindo. Se bem que meus sonhos às vezes são tão reais que até parece estou fazendo aquilo que ronda meu inconsciente.
Quando eu era criança me diziam que eu tinha um ‘Bicho-carpinteiro’. Durante bastante tempo me questionei o que seria esse tal bicho. Me diziam também que não negava que eu era neta da Dona Ernesta, uma referência à minha avó materna, Ernestina, que tinha a personalidade muito parecida com a minha. Inventiva, encontrava soluções para tudo e sempre tinha um jeitinho para resolver de forma prática as situações do dia-a-dia.
Pois bem, mais tarde vim a saber que quem tem o tal ‘Bicho-carpinteiro’ são essas pessoas que nunca ficam paradas, que não conseguem passar um dia sem ‘inventar uma moda’. Segundo o Houaiss, ‘Bicho-carpinteiro’ é o nome popular e genérico de “diversas espécies de besouros, especialmente das famílias dos buprestídeos e cerambicídeos, que durante o estágio larvar brocam troncos e cascas de árvores”. A ideia da expressão é propor uma metáfora, de que, a pessoa inquieta tem sob a pele, assim como as árvores têm sob a casca, as larvas desses insetos a se remexer constantemente, causando cócegas e não dando sossego. Portanto, o termo é usado para definir pessoas irrequietas, agitadas, desassossegadas ou que não sabem esperar sua hora.
Me identifico. Gosto de ‘inventar moda’ como dizem lá em casa toda vez que estou fazendo algum trabalho de criação – nome bonito para coisas que eu invento. Gosto também de presentear as pessoas com objetos, decorações e textos criados por mim. Na minha adolescência fiz diversos artigos decorativos com aquele quê de Karine. Um toque muito mais que pessoal ou autoral: um toque confidencial. Onde punha tudo dos meus sentimentos, minhas vontades. Fiz desde tapete de retalhos amarrados, uma linda cortina de pedrinhas e muitas colagens que estamparam caixas, pastas, envelopes de cartas e tantos outros, até poemas, crônicas e rabiscos, alguns que guardo até hoje.
Ultimamente meu ‘Bicho-carpinteiro’ reapareceu depois de um tempo adormecido, com toda a energia. O que começou com uma pinturazinha aqui e uma colagenzinha ali para aliviar o stress e a tensão, passaram a ser uma necessidade. Não passo muitos dias sem ‘inventar uma nova moda’.
Esses dias estava assistindo um quadro de um programa de televisão que ensina a criar, o estilo Do it Yourself e minha mãe lançou essa:
– Ai, aposto que essa será mais uma das tuas criações, né? Para sorte dela e da família toda, pois transformei o quarto de visitas da minha casa em uma oficina- atelier, eu não gostei da ideia.
Mas, de qualquer forma, acho bom nutrir esse bichinho inquietante e criativo que existe dentro de mim. Se não fosse assim, eu não seria tão eu.
Blábláblá