Eram todos jovens, sorridentes, alegres. Apenas saíram para se divertir, como a maioria dos jovens faz. Eles só queriam passar uma noite agradável na companhia dos amigos, ouvir música, dançar, curtir, aproveitar a vida e a juventude…
Planejavam um futuro, eram estudantes, a maioria deles. Estavam em busca de uma profissão, de uma carreira, de uma condição melhor para o futuro. Futuro, isso que lhes foi negado, destruído, por irresponsabilidade não apenas de um, mas de muitos.
Muitos erraram, desde os donos da casa noturna, os fiscais, os integrantes da banda, até os seguranças da boate que no primeiro momento impediram a saída dos jovens por achar que se tratava de uma confusão e que muitos queriam sair sem pagar a comanda do estabelecimento. Não é minha intenção discutir isso agora, nem julgar este ou aquele. A única coisa que quero é tentar refletir um pouco sobre o que aconteceu.
É muito triste isso tudo. Impossível assistir televisão, impossível estar nas redes sociais, impossível ler jornal…impossível imaginar a dor das famílias, dos namorados, dos amigos, sem se sensibilizar. IMPOSSÍVEL, essa é a sensação quando se tenta descrever e entender o que quem perdeu alguém que amava naquele incêndio está sentindo. Impossível entender como poucos minutos puderam destruir tantos sonhos.
E as histórias… quantas histórias, quanto planos, quanto futuro! 231, não é apenas um número, são 231 histórias inacabadas, vidas sem chance de continuação, planos desfeitos…
Como ter a dimensão exata da dor dos pais que nunca mais verão seus filhos? Alguém disse ontem na emoção da dor, que um filho quando perde um pai torna-se órfão e um pai quando perde um filho torna-se o quê? Nada… ele não é mais NADA!
E o namorado que nunca mais trocará beijos com o seu amor? E a menininha que jamais voltará a ter os carinhos da jovem mãe, que saiu com as amigas naquela noite e não voltou mais? E aquele pai que ligou 104 vezes pra filha que nunca mais atenderá o celular? Quantas alegrias aquele casal que planejava se casar iria compatilhar, quantos bons profissionais estariam prontos para o mercado daqui alguns anos, entre eles o menino que recém havia iniciado o curso de Agronomia. O rapaz que era a alegria da casa e o orgulho dos seus pais, a filha única, o irmão mais novo… nada disso volta, nenhum deles volta! Por isso todo o Rio Grande está de luto, porque não dizer todo o Brasil e fora do país também, muitas demonstrações de solidariedade, para este que foi o 2º maior incêndio do país.
Não conhecia nenhuma das vítimas, mas ainda assim estou com o estômago embrulhado e o coração inquieto. Só tenho a agracer a Deus por todas as vezes que saio com meus amigos e volto pra casa em segurança, em paz. Precisamos dar um tempo de tudo isso, de ler e ver essa cobertura jornalística alucinada que nunca cessa de apresentar mais e mais números chocantes. Não questiono a conduta dos profissionais de imprensa, afinal, a maioria está condicionada às normas do veículo que atua, só acho que informação e notícia diferem totalmente de explorar a desgraça alheia. Mas isso é apenas uma opinião pessoal a respeito da mídia…
Todos queremos saber sobre o andamento das investigações, não tem como deixar passar cada minuto de transmissão de uma tragédia dessa proporção, tragédia internacional já. Mas uma cobertura bem feita é aquela que respeita a dor dos outros num momento tão difícil.
Talvez eu me torne uma jornalista de meia tigela por pensar assim, mas não sei até que ponto conseguiria entrar no ar ao vivo sem lágrimas nos olhos sabendo que do meu lado alguém nunca mais verá seu filho. É preciso muito equílibrio e profissionalismo mesmo com os nervos à flor da pele, e isso, infelizmente nem todos os comunicadores possuem. Prova disso os muitos exemplos ruins durante as coberturas.
Mas e eles? Foram Brunas, Lucas, Felipes, Amandas… jovens que se foram, porque cometeram o erro de querer se divertir naquela madrugada de 27 de janeiro. Podia ser eu, podiam ser meus amigos, podia ser um irmão, o namorado. Podia ser qualquer um de nós. Não tem como não chorar diante de tanta vida perdida, de tanto futuro que já virou passado. Doído, muito doído!
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* Charge de Iotti publicada no Jornal Pioneiro edição de 27 de jeneiro de 2013 |
Por: Karine Klein
Tags:Crônicas do Cotidiano, Santa Maria
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