Arquivo | junho, 2013

Pinhão: do sabor à hospitalidade

11 jun
A família reunida ao redor do fogão à lenha, o pinhão na chapa assando, a conversa ganhando tons de amizade e o sentimento de união sendo preservado; assim acontece no inverno serrano. As famílias aproveitam esse ritual típico para fortalecer os laços. Nos dias frios, quando a geada nos pega de surpresa, sempre tem um lugar a mais para quem quiser “se chegar” em roda do fogo e saborear não só a semente da araucária, mas também todo o sentimento partilhado junto com ela.

O pinhão além de proporcionar esses momentos de lazer, também enriquece a culinária sulriograndense, cada vez mais receitas com essa iguaria vão sendo testadas e aprovadas pelo gosto dos gaúchos, ganhando admiradores por todo o Brasil.

Em cima da serra mais do que em qualquer lugar, o pinhão ganha destaque pelo sabor e por manter, assim como o chimarrão, o costume da hospitalidade, aproximando as pessoas. Em São Chico, nessa época do ano, essa tradição é celebrada com festa. Nessa 17ª edição, além de mostrar o potencial da gastronomia serrana, a valorização da cultura local também mostra porque São Francisco de Paula é terra boa. 

Mais informações sobre a 17ª Festa do Pinhão de São Francisco de Paula- RS em http://www.saofranciscodepaula.rs.gov.br/

Texto e fotos: Karine Klein

Personagens das ruas

5 jun
 Conheça quem são aqueles que anonimamente contribuem para tornar São Chico um lugar melhor
 
Eles são pessoas comuns, com histórias de vida parecidas com a de muitas outras pessoas. Todos trabalhadores, que mesmo anonimamente, decidiram fazer a diferença em São Chico.  São serranos, naturais ou de coração, que optaram por deixar a acomodação de lado e fazer sua parte para uma cidade melhor. Esses personagens da vida real dão exemplos de perseverança, não desistindo fácil e provando no dia-a-dia como cada um pode fazer mais pelo lugar onde vive.
São pessoas pelas quais passamos na rua e muitas vezes não temos a dimensão do seu trabalho e do seu papel social na comunidade. Os “invisíveis” que não fazem questão de serem divulgados, mas que merecem o carinho e o respeito de cada um de nós.
Na cidade o que não faltam são pessoas que atendem esses requisitos, confira a seguir, três histórias diferentes, mas com um ponto em comum, a dedicação pelo trabalho e a certeza de melhorar São Chico.
Valdoci da Silva
Crédito: Karine Klein

O papeleiro que constrói sonhos no lixo

 

Com um sorriso no rosto e sempre muita disposição, ele percorre as ruas de São Francisco de Paula numa carroça azul puxada por Cigano, seu cavalo e companheiro de trabalho. Por onde passa, Valdoci da Silva além de materiais recicláveis, recolhe também os agradecimentos e a confiança da comunidade. Essa relação de respeito foi se construindo ao longo do tempo e hoje não são poucos os estabelecimentos que deixam suas chaves com o coletor para que ele busque os resíduos que iriam para o lixo.

Rutinéia Dutra Christofari é gerente de uma loja de departamentos no município, e convive com Valdoci há cerca de três anos. Durante todo esse tempo o papeleiro busca o que sobra das embalagens de mercadorias que chegam de caminhão até o estabelecimento. Caixas de papelão, entulhos e todo o material que iria para o lixo. Rutinéia considera Valdoci um homem digno de respeito. “Ele é muito honesto, diversas vezes já encontrou produtos esquecidos no meio dos papeis de embrulho e todas as vezes devolveu. Uma vez foi um pacote inteiro de blusas, teve outra situação que foram deixados um par de chinelos. E ele sempre devolve”, comenta.

Nessa função há oito anos, o serrano recolhe diversos detritos, como papel, ferro, eletroeletrônicos e eletrodomésticos e os encaminha para usinas de reciclagem e empresas da região, como a Gerdau. Os únicos materiais que Valdoci não recolhe são vidro, isopor, e embalagens do tipo Tetra Pak, mas segundo ele “fora isso recolho de tudo, e olha que tem cada coisa…”

Dificilmente há um final de semana ou feriado que Valdoci não esteja trabalhando, seja nas coletas na rua ou no galpão onde deposita e separa os materiais, em frente à sua casa. Ali ele pode ser encontrado até a noite, trabalhando com humildade e sempre pensando no futuro.

Quem o conhece sabe: não falta simpatia no papeleiro, e ela é resultado de seu bom humor para com a vida, mesmo que nos últimos tempos ela tenha pregado muitas peças nele.

Diagnosticado em 2009 com câncer na laringe, Valdoci obrigou-se a deixar suas atividades de lado e tratar da sua saúde. Desenganado pelos médicos, ele não se deixou abater, continuou o tratamento e enfrentou a situação. Nesse tempo contava com o apoio de sua companheira, Iara Maria, que além de dividir por 22 anos a vida e os planos com ele, dividia também o trabalho. Hoje recuperado, mas em observação, o papeleiro segue sua rotina com a mesma dedicação de sempre, porém dessa vez lamentando a falta da esposa, que o deixou há um ano, também vítima de câncer.

Em sua casa ele mostra com orgulho o fruto do seu esforço: a mobília quase completamente composta por artigos que as pessoas não quiseram mais e jogaram fora ou doaram para o desmanche, mas que de alguma forma Valdoci soube aproveitar. Diversos eletrodomésticos, roupas, calçados, relógios, toca discos, televisões, telefones, entre muitos outros artigos que teriam como destino certo o lixo, compõe sua casa. Seu carro, um Palio Weekend branco comprando com o esforço do trabalho diário, também é motivo de orgulho para o papeleiro.

Pelas paredes além de quadros, também retirados do lixo, muitas imagens de santos estão espalhadas reafirmando e aumentando cada vez mais a fé, que segundo ele, foi o que o salvou do câncer, mesmo depois de um tratamento errado.

Aos 51 anos Valdoci tira seu sustento do que as pessoas não querem mais, mesmo sem a pretensão, ele contribui para tornar a cidade mais limpa e dar o destino correto para os resíduos que se descartados de forma errada iriam prejudicar o meio ambiente.

Fabiana Kopittke
Crédito: Arquivo Pessoal

 Um amor que vem da infância

Há oito anos atrás quando veio trabalhar em São Chico, Fabiana começou a recolher animais das ruas, na maioria cães. Depois de castrá-los ela procurava por adotantes. Passaram quatro anos e a advogada, funcionária pública do TJRS, veio morar definitivamente aqui, e conversando com colegas de trabalho percebeu que era possível destinar valores de condenações criminais para a causa dos animais de rua, desde que houvesse uma associação civil criada para essa finalidade. 
Assim foi aparecendo uma pessoa aqui e outra ali que já faziam esse trabalho individualmente, elas se uniram e criaram em 2010 a Associação Civil Amigos de Rua, cujo objetivo principal é desenvolver um trabalho a longo prazo promovendo a diminuição de animais de rua através da castração.
Com a atuação da ONG no município e através das redes sociais, as voluntárias conseguiram chamar a atenção para a causa e sensibilizar as pessoas. Segundo Fabiana, que ocupa o cargo de Diretora Administrativa da entidade, hoje já é possível notar uma tomada de consciência por parte da população em geral e dos órgãos públicos e uma mudança de atitude fazendo todos se envolverem e assumirem a responsabilidade de resolver esse problema de saúde pública.
Mas nem tudo se deu de modo fácil, ainda são muitos os casos de abandono e maus tratos aos animais e ainda é preciso mostrar às pessoas que cada um deve fazer sua parte para diminuir os cães e gatos nas ruas. A ONG não possui abrigo, por isso o trabalho das voluntárias é tão importante, elas buscam quem os queira e possa de fato dar uma vida digna, com atenção para saúde e cuidados básicos para os bichinhos.
Mantida por doações particulares e de seus próprios voluntários, a ONG também conta com a colaboração do Poder Judiciário e do Ministério Público da nossa cidade. Algumas vezes também recebem apoio de empresas. Porém não possuem atualmente nenhuma verba da Prefeitura.
Desde criança Fabiana já se importava com os animais de rua e muitas vezes, quando os pais permitiam, os levava para casa. Mais tarde ajudou ONGs em Porto Alegre, mas o envolvimento mais sério se deu aqui no município e hoje, grande parte do seu tempo livre ela dedica para os afazeres da ONG.
Fabiana, aos 36 anos, considera que os animais, assim como as crianças, sãos os seres mais puros com quem podemos conviver. “Essa pureza me ensina muita coisa. O tão batido amor incondicional, que eles realmente têm, a gratidão, a capacidade de reaprender a confiar, e como coisas simples podem ser motivo de tanta alegria.”
Para a advogada, apesar da ajuda escassa, de serem poucas voluntárias – somente 7 –  e de receberem muitas críticas, tudo isso compensa quando ela vê animais antes desamparados, debilitados, que passaram por diversos tipos de sofrimento, voltarem a ser alegres, confiantes e saudáveis quando encontram um lar com adotantes que se comprometam com eles.
A ONG Amigos de Rua vem fazendo sua parte unindo as pessoas que lutavam sozinhas por um pouco de dignidade aos animais da cidade. Sempre tentando agregar mais pessoas interessadas em mudar a realidade dos animais e cobrar dos responsáveis uma mudança de atitude no nosso município.  

Athos Xavier de Brito- “Peladinho”
Crédito: Karine Klein

 O esporte como forma de driblar as dificuldades

Ele anda pelas ruas de São Chico, na maioria das vezes com uma pasta debaixo do braço.  Nela está sua história: seu passado e seu futuro. Athos, ou o “Peladinho” como é conhecido por todos, carrega sempre consigo as ideias em forma de documentos, todas organizadas e exibidas com orgulho. Seu passado representado por tudo que já desenvolveu na área cultural e esportiva, e seu futuro contido nos projetos que apresenta à comunidade.
 A causa não poderia ser mais justa, ele só quer poder dar continuidade ao seu trabalho, totalmente voluntário, que já tirou e segue tirando meninos e meninas das ruas. O que Peladinho oferece é uma opção de lazer para as crianças e os jovens, a escolinha de futebol Pelé & Pelado que atende gratuitamente meninos e meninas, na sua grande parte carentes, de 7 a15 anos.
A escolinha existe desde 1988 e foi criada por ele para tentar tirar seu filho Salomão do mundo das drogas, infelizmente não deu certo, Peladinho perdeu o filho, porém ganhou muitos outros. Até hoje passaram pela escolinha cerca de 450 crianças e adolescentes ao longo dos anos. E toda vez que reencontra algum desses meninos, hoje homens casados e com filhos, sente orgulho ao ver que contribuiu para dar um futuro mais digno a eles.
 Muitas conquistas a instituição já obteve, entre elas a de trazer por duas vezes três categorias de base do Grêmio para jogar com os alunos da Pelé & Pelado. Em 1992, trazendo ídolos como Ronaldinho Gaúcho, Tinga e Gavião e mais adiante, em 2007 também.  Outro grande orgulho de Peladinho foi preparar e treinar a categoria de 11 anos que passou duas décadas sem perder jogos.
Sempre apresentando projetos na Câmara de Vereadores, ele busca apoio do poder público, mas a ajuda na maioria das vezes vem das doações motivadas pela admiração que as pessoas sentem pelo seu projeto. Atualmente, a escolinha possui três locais para treinar, o campo do Atlético Serrano, o do DAER e outro espaço de um particular. Toda a vez que os meninos participam de campeonatos fora do município os gastos com transporte e alimentação dos jovens atletas são também custeados somente com patrocínios, o que dificulta manter o projeto.
Aos 64 anos, além de voluntário no esporte, Peladinho é poeta e compositor, premiado em diversos festivais de música na região. Sempre envolvido em projetos na área de esporte, cultura e educação, outra idealização dele foi a Banda de Latas que esteve presente em muitos eventos no município.
Segundo Peladinho, sua intenção é servir não só no esporte, mas para desenvolver a cultura na cidade, o que vem fazendo à cerca de 40 anos pela vontade de ver um futuro melhor para os jovens de São Chico.

Por: Karine Klein

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