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Ao me fazer essa pergunta hoje pela manhã, lembrei de um curta metragem que assisti há algum tempo, acredito que tenha sido adaptado de um conto, porém não lembro o nome nem o diretor. A história conta um dia na vida de um homem cuja única alegria era passar o dia todo com um par de sapatos muito apertado nos pés, para no final do expediente de trabalho, chegar em casa e tirá-los, alcançando assim uma alegria suprema.
Cito esse exemplo para dizer como a felicidade é algo singular para cada indivíduo, uma felicidade não é igual a outra. O que faz feliz aquele que vai passando ali na rua pode não fazer o mesmo com a pessoa parada logo ali, na esquina.
Ultimamente a minha resposta para o questionamento acima é bem simples. Quero fazer muitas coisas, conhecer muitos lugares, aprender tudo o que puder, porém, nos últimos tempos, o que tem me feito sentir uma alegria indescritível é chegar em casa depois do trabalho e estar tudo quentinho me esperando, com a lareira acesa e um café bem gostoso que minha mãe faz, posto na mesa. Em seguida tomar um banho quente, demorado e poder ler um bom livro. Simples demais? Simples para quem? Para alguns pode até ser, mas isso tem me proporcionado momentos de grande felicidade.
Todos os dias convivo com crianças e jovens carentes. (Detesto essa palavra, mas como fugir dela quando há carência de amor, de respeito, de dignidade, de condições básicas para se viver?) Crianças e adolescentes que nesses dias mais frios vestem apenas blusinhas leves, não usam meias, não têm luvas e muitas vezes não têm o que comer. Muitos vivem em casas com frestas por onde a friagem entra sem piedade. Dói só de ver, imagina então viver os dias assim! Se não é fácil aguentar o inverno gaúcho com todos os tipos de aquecedores, lençóis térmicos e ótimos casacos, imagina sem nada disso? Me sinto um pouco culpada de ter tudo o que tenho e ainda reclamar. Parece que estou cometendo uma injustiça sem tamanho quando vou dormir de estômago cheio e com várias cobertas para me aquecer.
Dói ver na TV as pessoas comemorando o frio, dizendo “tomara que caia neve!”, “Que lindo o inverno!” Certamente as paisagens ficam lindas, a neve branquinha descendo do céu é um espetáculo natural. Mas daí ao ponto de comemorar e ir para televisão dizer que o inverno se resume aos saborosos cafés da serra e aos hotéis com lotação máxima de turistas à espera da neve, é um pouco irracional, não?
Será que o inverno está congelando nossa solidariedade? Ou será que ultimamente está na moda o egoísmo? Todos têm direito de gostar do inverno, de apreciar as delícias que ele traz consigo, o que não vale é fazermos de conta que para todos a sorte é a mesma e fechar os olhos para quem não tem o básico para se proteger do frio.
Que jamais deixemos que os ares gelados tomem conta de nossos corações.
Blábláblá