Esses dias li em algum lugar que cozinhar é uma forma de amar as pessoas. Achei essa frase linda pela simplicidade e por toda a verdade contida nela. Lembrei quase que instantaneamente da minha avó materna, das comidinhas gostosas que ela fazia e de como sentia prazer em ver todos ao redor da mesa, sempre cheia. Lembrei da minha mãe, que diariamente alimenta a família. Neste momento me veio à mente as cenas de quando era criança e ficava em volta do fogão, curiosa, vendo o que a mãe preparava. Pensei nas minhas tias, todas muito dedicadas à culinária. Nas novas gerações, não faltam exemplos também; minha irmã e minha madrinha que são ótimas na cozinha e sempre surpreendem com algo delicioso. Lembrei também de um ex-namorado que adorava cozinhar e inventar pratos novos. Daquele cheirinho maravilhoso de uma lasanha à Bolonhesa no forno, o gosto surreal do meu doce preferido, huuuum… Que sublime arte! Que verdadeiro gesto de carinho é cozinhar para os outros! Mas a cozinha não é um lugar para todos, ou melhor, para qualquer um.
Durante muito tempo eu bem que tentei. Numa época que só estudava, diariamente eu cozinhava para minha família. Religiosamente, de segunda à sexta-feira o almoço lá de casa era comigo. Coitados! Eu me esforçava, pedia dicas para as experientes cozinheiras que conheço, para que meu arroz não parecesse um purê de grãos brancos, ou então para que os bifes não ficassem com a consistência de uma borracha e, quem sabe um dia, numa remota hipótese acertar a maionese. Minha irmã, muito apoiadora que sempre foi, dizia que eu praticava um esporte toda vez que ia fritar batatas: “arremesso de batata ao óleo”. E insistia que o azeite não ia avançar sobre mim se eu chegasse mais perto e que um pouquinho mais de jeito era só o que me faltava. Iludida. Na verdade o que me faltava, falta até hoje, é um caminhão de jeito para cozinha.
Então chegava o meio dia e um suor frio percorria meu corpo, era a hora do veredito! Meus pais animados por terem tão prendada filha se serviam ansiosos. A cada colher que ia da panela ao prato, meus dedos tremiam, cada vez que diziam “isto deve estar ótimo, a cara está boa”, eu gelava. Então chegava o momento decisivo: a primeira garfada. Quem, assim como eu, gosta de comer bem e sabe apreciar um bom prato, sabe; a primeira prova da comida já entrega o que está por vir. Por mais que seja necessário experimentar atentamente, com paciência e apreciando bem o gosto, dificilmente a sensação inicial que se tem muda depois de diversas garfadas.
Então eles mastigavam e mastigavam e nada. Eu, impaciente não me contive:
– E aí? Como está? O que acharam?
Meu pai se apressa em dizer que está tudo muito bom, que tal comida ficou bem temperada, ótima, etc, etc. Minha mãe é um pouco (pouquinho) mais sincera. Também diz que tudo está muito gostoso, mas tal prato podia ter menos sal, o arroz tá meio “papa” e a carne queimou um pouquinho. Fora isso está perfeito.
Fora isso, fora a comida toda estar intragável…
Eles bem que tentavam disfarçar, se serviam várias vezes, faziam cara de felizes, mas no fundo eu sempre podia ver, o almoço descia empurrado.
Enfim, eu juro que eu tentei! E hoje… desisti! E o melhor de tudo: não carrego mais a culpa de não saber e de não gostar de cozinhar!
Portanto digo e repito: no meu caso NÃO cozinhar é uma forma de amar as pessoas. É o maior gesto que eu, toda atrapalhada, posso dar como demonstração do meu amor por alguém.
*Texto: Karine Klein
Foto: Reprodução Internet
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