Arquivo | agosto, 2013

À beira do meio-fio brotou uma rosa

30 ago
Era uma noite de enchente, dessas que instalam o caos no trânsito e na vida das pessoas. Agosto castigou com chuvas sem trégua e rios no limite máximo. BR 116 congestionada, som de buzinas, ruas alagadas. Mas Esteio não era só água. Dentro do Parque de Exposições Assis Brasil acontecia mais um dia na história da Expointer, essa jovem senhora na casa dos 36 anos que ainda se comporta como uma menina, vibrando de entusiasmo a cada visitante que chega.  Era quarta-feira, dia de muitos leilões, por todos os lados que se olhasse passavam animais premiados cujo valor atingiu cifras de arregalar os olhos. Em vários cantos as negociações aconteciam. Em um deles, um animal imponente, cheio de si, vencedor de várias provas em anos anteriores, acaba de ser arrematado por nada mais nada menos que justos, segundo o dono, 500 mil reais.
 As pessoas passavam com pressa, e nesse meio uma moça precisa se orientar para saber aonde ir, passa um homem e ela pede ajuda sobre algum lugar específico. Recebe uma recusa e um pedido de desculpas “mas o tempo está escasso”. Passa outro, a mesma coisa. Alguém logo ali, varrendo o meio-fio observava a cena. Aproximou-se meio sem jeito, vagarosamente perguntando se podia ajudar, com uma agilidade no olhar e um jeito de falar de quem se acostumou a precisar da ajuda dos outros e ter que “se virar” sozinha.
A gente vem ao mundo pra servir. diz ela satisfeita por ter indicado o que a moça precisava.
Uma Maria entre muitas outras, com nome de flor. Dona Rosa Maria de Jesus, desde o ano 2000 se adapta à rotina de um trabalho em ciclos que parece nunca ter fim. Um limpa-suja, limpa-suja constante. Dona Rosa é auxiliar de serviços gerais e conhece uma Expointer não tão prestigiada como a que conhecemos; uma feira de sujeira, desordem e lixo.
Pelas ruazinhas, entradas, quadras e qualquer que seja o espaço, está ela, varrendo e recolhendo o que sobra sem utilidade. As mãos com muitos calos não deixam dúvidas: ela trabalha das oito da manhã às oito da noite no evento. Nas suas atividades nem sempre um sorriso, como os que distribui a quem passa, é o que ela recebe de volta. Dessa forma ainda constata que o preconceito permanece e vem de quem está bem próximo: os próprios colegas.
A rotina desgasta, mas é necessária. Dona Rosa é que acorda o sol, 5 horas já está de pé, tomando o seu “pretinho” para em seguida entrar no ônibus que sai do bairro Rio Branco em Canoas até o Centro da capital. Ela é ambulante, vende roupas e todo o tipo de quinquilharia. Agora com o rigor da fiscalização, muitas vezes acaba tendo que voltar para casa sem a garantia da refeição dos dias seguintes. Por isso há 13 anos aproveita a Expointer para reforçar sua renda.
Os sinais dos seus 55 anos, quase todos marcados pelo trabalho de honestidade e esforço desde a infância pobre em Campo Bom, não enfearam os traços da filha da costureira e do pedreiro, que sonhava ser aeromoça e conhecer o mundo.
Eu ainda vou voar para a Europa! Afirma animada. Contaram para ela que lá a vida é mais fácil, mas Dona Rosa está sempre bem informada: – Mas eu sei que a crise lá tá feia, eu que não saio daqui, só para passear, já tenho minhas clientes e minha vida feita.
 Frequentou a escola só até a quinta série. Decidiu ir para Canoas quando ainda era mocinha, morar com uma tia. Mas a tia, que já não lhe dava muitas condições de vida, faleceu, e a miséria bateu à porta e a fez sair para as ruas tão logo, vendendo suas bugigangas.
Dona Rosa vive sozinha, nunca casou nem teve filhos, os pais são falecidos há muitos anos. Como costuma dizer a quem pergunta é “uma solteirona solitária”. Mas para sozinha ela não serve, sempre estão por perto os amigos e colegas, os mesmos que às vezes têm preconceito, também a tratam com a estima que uma amiga merece.
A falta de oportunidades e o cansaço do serviço não tiraram o brilho no olho de quem tem muitos planos e sonhos pela frente.
Eu quero fazer muita coisa ainda, quero conhecer lugares diferentes, visitar uns parentes que foram para o Paraná, também quero garantir minha velhice, eu não sei o dia de amanhã. – Enquanto conta suas metas para o futuro ela continua com a vassoura firme na mão fazendo seus movimentos repetitivos.
Dessa maneira Dona Rosa segue seus dias, varrendo as sujeiras da rua, limpando as calçadas e conduzindo as adversidades que surgem pelo caminho. Assim ela continua fazendo seu trabalho, com o mesmo sorriso de sempre e a disponibilidade para ajudar os outros, da rosa que não murcha no meio da poeira nem com as tempestades de agosto.
Dona Rosa Maria de Jesus
Foto: Karine Klein

Os bugios mais uma vez roncaram em São Chico

13 ago
Thomaz Machado uma das revelações do 1º Ronco do Bugiozinho, levantando o público. 

           Em sua 22ª edição, retornando ao CTG Rodeio Serrano,  um dos mais autênticos festivais de música nativista aconteceu mais uma vez em São Francisco de Paula. Os dias 9, 10 e 11 de agosto proporcionaram muita musicalidade para a terra serrana dos grandes gaiteiros, e dessas cordeonas saíram lindas composições que mostraram porque o Bugio é o ritmo mais verdadeiramente nosso e que mais representa a vida e a lida nos pagos gaúchos de Cima da Serra. 
            O Ronco do Bugio nasceu em 1986, a partir de uma ideia do serrano João Cincinato Lucena Terra, com o apoio do diretor do conjunto Os Serranos, Edson Dutra. Nesse ano a composição vencedora foi “Levanta Bugio” do cantor tradicionalista Leonardo, acompanhado pelo grupo Os Monarcas. Este festival foi o primeiro do Rio Grande do Sul em que os competidores só podem executar um mesmo ritmo, valorizando e preservando assim, o bugio. Muitos consideram o ritmo como o único genuinamente gaúcho e atribuem a sua origem aos Campos de Cima da Serra.
             Apesar da origem não poder ser afirmada com certeza,  São Francisco de Paula soube preservar e homenagear o ritmo criando o festival e passando a tradição de tocar o  bugio de geração em geração, fazendo um alerta também para a espécie que há algum tempo vem desaparecendo aos poucos de nossas matas, deixando o silêncio antes preenchido pelo roncar dos bugios.
          Em São Chico é assim, desde pequeno já se sabe preservar os costumes e honrar nossa cultura! No click de Silvio Kronbauer, o pequeno Thomaz Machado, de apenas 5 anos cantando a música “Levanta Bugio”, sucesso de 1986 do compositor Leonardo, durante o 1º Ronco do Bugiozinho evento que aconteceu junto ao 22º Festival Ronco do Bugio, cuja intenção foi fazer o resgate histórico e homenagear as composições consagradas nos festivais anteriores, apresentando também os novos talentos da música regionalista.
            Confira os resultados com artistas que entraram para história desse festival.

1º Ronco do Bugiozinho:
Vencedor do 1º Ronco do Bugiozinho Lucas Ferreira


Melhor Intérprete: Paulo Roberto de Souza Junior, com a Música do Rio Grande Antigo.
3º Lugar: Luis Fernando da Silva e Ubiratã Reis com a música Brasil de Bombacha.
2º Lugar: Thomaz e Eduardo Machado, com a música Levanta Bugio.
Vencedor do Primeiro Ronco do Bugiozinho: Lucas Ferreira, com a canção Flor de Fandangueiro.

22º Ronco do Bugio:
Canção vencedora do 22º Ronco do Bugio: Cordeona Além dos Idiomas


Música Mais Popular: Quando um Bugio Faz Morada, de Volnei Gomes e Rodrigo Pires.
Melhor Arranjo para a Música: Lida Buena, de Rômulo Chaves.
Melhor intérprete: Cristiano Martins pela música Noitadas da Serra.
Melhor Instrumentista: Gabriel Claro por De tropa e Saudade.
3º lugar: música Sementes de Vida de Mario Tressoldi e Chico Saga.
2º lugar: Das Mãos do Gaiteiro, de José Claro e Paulo Ricardo Costa.
Vencedor do 22º Ronco do bugio: Cordeona Além dos Idiomas, de Jones Andrei Vieira.

FOTOS: SILVIO KRONBAUER
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